terça-feira, 3 de abril de 2018

Momento

Caso pudesse retornar no tempo
Escolheria o momento em que não havia tristeza em mim
Iria em busco deste singelo momento de felicidade
Para que enfim findasse a tristeza que me assonda

Viveria este momento repetidamente
Por milhares e milhares de vezes
Até o momento em que este momento não me causasse mais alegria
Em que este momento se tornasse indiferente a mim

Talvez seja indiferença melhor que a tristeza
Talvez seja este um sentimento, ainda que obscuro, mais alegre
Indiferentemente se há tristeza na indiferença
Não há indiferença na tristeza

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Diálogo

Sabe,
Dia desses vim pensando assim
Sobre nós dois
Sobre o que tu representas a mim
E eu a ti

Percebi que não passo de um menino
E ainda não entendi o que és
Se és a comida que como
Se és o ar que respiro
Ou se és este amigo imaginário a quem me refiro

Enlouqueço varando noite a dentro
Questionando-me a real necessidade de compreender
A mim
E também, a ti

Fiquei descalças para melhor sentir o chão
Tirei a blusa que cobria o meu tórax
Para melhor sentir as batidas de meu coração
Por fim vi-me nu, tanto de mente quanto de corpo

Mas quero que entendas o meu escopo
Assim como quero te entender
Muito provavelmente já conversaste com tantos outros
Este mesmo assunto

E estes muitos outros talvez não o tenham compreendido
Talvez tenham o sentido mudo
Apático ao que acontece
Tanto de bom quanto ruim

Mas como um cantor baiano diz a mim
Se eu quiser falar contigo
"Tenho de ficar a sós
Tenho que apagar luz
Tenho que calar a voz"

Então, percebo
Devo calar-me
Pois assim, quem sabe
Eu por fim te entenda
E nos teus braços eu me renda 

segunda-feira, 6 de março de 2017

Estações

E aí o verão acabou
Aquela gente animada foi se recolhendo
Indo embora pouco a pouco
Nosso cotidiano volta com tudo

Aos apaixonados pelo frio
Assim como eu
Dão graças que o calor vai-se aos poucos
E nos deixa histórias de noites de verão
Que talvez nunca nos lembremos

As cervejas deixam de estar em primeiro lugar
Pelo menos em minha lista
A solitude me abraça como uma velha amiga que há muito não via
Abro a porta do meu peito e a deixo confortável

Manhãs frias estão por vir
Folhas estão por cair
Flores a murchar
E as noites acaloradas de amigos
São substituídas pela submersão pessoal

Procurando encontrar um equilíbrio entre o prazer das noites quentes
Junto a calmaria das noites frias do outono e inverno
Me vejo um caçador da minha felicidade
Pois queria que o tempo estancasse feito o olhar do ser mais apaixonado por sua primeira noite de amor
Seja ela de frio
Seja ela de calor

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

De quem nada sei

Não sei o que te satisfaz
Tua alma clama
Porém por algo que não posso te dar

Não sei o que queres de mim
Ou que esperastes de mim
No momento que tivestes consciência
De que um dia eu existiria

Não sei o que te satisfaz
Se é o que me satisfaz
Ou o que preenche o teu vazio
Vazio das tuas angústias

Não sei o que sonhas
Mas quando dormes é pelo cansaço
E não pela busca do sonho

Não sei o que te falta
O que esperavas do futuro
No teu passado ainda presente
Que ronda meu imaginário

Não sei quem realmente és
Qual feição realmente tens
Ao olhar-te no espelho

Não sei como me enxergas
Se me vês como me vejo
Ou se abaixas teu ego
Quando me olhas

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Meu mundo

Passei contando as horas
E me perdi no tempo
Vi passar um mundo
E me esqueci no espaço

Por um instante fiquei assimilando
A relatividade do meu mundo
Com o resto do universo
E percebi o quão complexas são as coisas da vida

No momento em que olhei os pássaros
As folhas, as flores de Ipê que caem
Numa leve brisa de setembro
Esta que leva meus pensamentos

Me perdi tentando me encontrar
Em pensamentos desolados
Momentos em que estanquei
Só meu corpo se movia

Tentei acalmar o choro
As lagrimas nervosas correram meu rosto
Mas acabaram por lavar minha alma
Limpando as cicatrizes

E o mundo continuou a girar
As horas a passar
E eu me encontrei no espaço
Perdido entre meus pensamentos.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

O banco


Sentei-me num banco de praça
Desses que os velhos se sentam
E num instante me percebi jovem
Ao olhar o mundo velho ao meu redor

No instante seguinte veio um menino
Desses que corre do braço da mãe
Como quem corre de um incêndio
Vinha em minha direção

Sentou-se ao meu lado
E disse seu nome
Logo em seguida perguntou o meu
Eu o respondi

O menino estava cansado
Pois vivera tão pouco
E já lhe fora esperado tanto
Que o pouco da vida que conhecia
Já lhe trazia fadiga

Falei para acalmar-se
A vida tem dessas coisas
Faz de nós personagens
E esperamos sermos os mocinhos
Porém muitas vezes
Não passamos de um mero coadjuvante
Percebi que do menino escorreu uma lagrima
Uma lagrima que me significou tanto
E que foi em tão pouco tempo
Percorrendo o doce e suave rosto
Do jovem cansado da vida

Perguntou-me o que valia a pena
Disse-lhe que tudo na vida vale
Ele então questionou o que tinha maior valor
Eu disse que o verdadeiro valor das coisas
Não está nelas, mas nos gestos

Ele disse que para ele
O que mais valia na vida era o tempo
Menino sábio
No fundo tive de concordar com ele
O tempo é o dono das coisas e da vida

Quando percebi
O tempo tinha passado
O menino tinha virado jovem
Eu tinha virado velho
E o mundo...
Bom o mundo continuava velho 

domingo, 9 de março de 2014

Ensaio sobre a felicidade

Onde andavas?
Estavas tão longe assim de mim?
Nunca cruzei o teu caminho
Ou andei olhando pro chão e esqueci de erguer a cabeça?!

O tempo é o pão da sabedoria
Alimenta nossa mente
Enriquece nosso ser
Envelhece nossos rostos e rejuvenesce nossos corações

Diga-me, nunca pensaste na morte?
Nunca andaste preocupado com a conta a pagar?
Tantas inquietações para apenas uma cabeça
Tantas dúvidas, e quase nenhuma inútil certeza...

Fez falta sim, felicidade
Teu caminho por muito não trilhou o meu
Por muito me vi longe dos meus sorrisos
Amarelei muitas fotos com sorrisos falsos 

Falta coragem no meu coração
Pra expulsar todos medos que já tive
Devaneios que volta e meia
Aparecem e desaparecem, como esconde-esconde